quarta-feira, 11 de junho de 2014

Desassossego II

Estou a me perguntar o que me aflige, o que tem me deixado desassossegado. Aí, como respostas, me vêm as mais diversas explicações, fazendo-me perceber que não é uma parte que me incomoda,mas um todo. Um todo? Como assim, pergunto-me?! Nesse momento, começo a mergulhar em uma série de reflexões que, mais do que me responder, deixam-me ainda mais inquieto. Talvez por isso é que a resposta para meu desassossego, sejam os próprios motivos que me levam a ele.
Por acaso uma dessas inquietações é a incerteza do futuro. Não estou bem tranquilo com que vem por aí, embora não tenha como prever o que irá acontecer. No entanto, é o que vejo agora que deixa minha visão anuviada. Não que o pessimismo tome conta de meus sentimentos, porém - se é que posso dizer assim - é a falta de esperança no que se anuncia que me atormenta e também aquilo que vejo no semblante do outro.
Nesse contexto, a luz, o saber, que deveria guiar nossos passos, aparentemente, tem perdido espaço para a ignorância. E por ter consciência desse processo de perda da capacidade de enxergar as coisas como elas são, angustio-me por me sentir impotente diante desse quadro. 
Não é que não tenha feito algo contra essa alienação, muito pelo contrário, porém são as respostas aos meus esforços e que fazem esvair a minha esperança. 
O que tenho percebido nas colocações, nas palavras dos que me cercam e dos que observo à distância, é que parecem pertencer a um só discurso. Só que esse discurso segue um mesmo roteiro, construído, aparentemente, no inconsciente das pessoas de modo que as deixam incapazes de enxergar a realidade como ela é. Pior, no entanto, é  ver que isso se solidifica cada vez mais no íntimo da maioria das pessoas.
A reflexão, que deveria nortear as decisões a serem tomadas, é trocada por colocações vazias, sem nexo, desprovidas de sentido. Parece que, de uma hora para outra, alguém ligou o botão da insensatez e as pessoas começaram a agir como marionetes, sem perceber o que estão fazendo ou para onde estão indo.
Só que há um detalhe sórdido nisso tudo: muitos não sabem para onde vão, contudo quem os conduz sabe muito bem aonde quer  que eles cheguem.
No mundo, na vida, cada um de nós faz parte de um só mecanismo tão interligado que a ação de um interfere na mesma proporção na vida do outro. Tenho consciência que na vida em sociedade prevalece, normalmente, a vontade da maioria. É nesse ponto que se encontra o cerne do problema.
Não é possível para alguém, que enxerga o que está por trás das aparências, ficar inerte, ao ver as pessoas sendo levadas a um abismo sem fim. Elas, durante essa caminhada, não conseguem ouvir o apelo para que acordem, enquanto há tempo de evitar o desfecho anunciado.
por essa razão, é possível afirmar que inúmeras vezes as respostas são obtidas a partir de nossos próprios questionamentos. A minha angústia se encontra, portanto, em não conseguir encontrar uma forma de tentar reverter a situação prevista. A impotência, nessas horas, é o pior dos sentimentos!
Não acredito, porém, em soluções que surgem do nada, essa ilusão já perdi. Tenho hoje a maturidade de compreender que muitas vezes ser a voz dissonante em meio a uma multidão não consiga se fazer ouvir; mas, por outro lado, não aumenta a intensidade de um coro uníssono.  Isso talvez seja o que me consola!

terça-feira, 10 de junho de 2014

Conchavo - um mal das relações humanas

Há quem não concorde com ideia de que a maior dificuldade de se viver hoje em dia - senão sempre - são as relações humanas. Para os que discordam, o que é perfeitamente normal, aponto que a facilidade ou dificuldade de viver estão proporcionalmente ligadas às relações que conseguimos estabelecer com nossos pares, quer seja no âmbito pessoal, quer seja no profissional. E é nesse ponto que vem, para mim, o cerne do problema: as pessoas constroem suas relações de acordo com os "conchavos" que conseguem estabelecer com os grupos sociais a que pertencem.
Viver em sociedade não é algo fácil, as dificuldades são inúmeras. Assim, para muitos, se se pode minimizar tais atropelos, obstáculos, fazendo acordos e concessões, por que não os fazer? As causas justificam os meios maquiavélicos que usamos para alcançar o que queremos. Para muitos, isso é um fato!
No entanto, quando esses acordos em forma de conchavos são feitos, cria-se aí uma relação de interdependência entre as partes, sendo que um tem o outro nas "mãos", para quando for necessário, cobrar-lhe a fatura. Nesse caso o limite, se é que ele existe, passa a ser um espécie de "valor" pelo qual, muitas vezes, pode ser mensurado o caráter de alguém. Dependendo do nível do acordo fechado entre as partes, é possível se avaliar isso como sendo o preço pelo qual uma pessoa aceita sujeitar-se a determinadas situações. 
Infelizmente, em nosso cotidiano, isso é comum. E quando você não se encaixa nesse jogo, passa a ser visto como alguém "perigoso", pois as partes que fizeram o acordo entre si não podem titubear, uma vez que as suas ações podem ser percebidas por quem não faz parte de seu "time". Fica-se estabelecido, então, que é preciso isolá-lo, senão eliminá-lo, sem exageros é lógico.
Ceder a esse conchavo é o mesmo que se vender, uma vez que sempre haverá uma fatura em aberto entre você e seu cúmplice.  Cúmplice sim, porque muitas vezes esses conchavos são para encobrir algo que não é o mais correto a ser feito. Há uma troca de favores, de vantagens entre as partes.
O conchavo também é usado por alguns, que não conseguem obter respeito ou liderança de seus subordinados de forma natural, como uma forma de estabelecer uma hierarquia, de poder sobre os mesmos. Daí se questionar o valor da liderança que se estabeleceu com sua "equipe"!
Aceitar fazer parte desse acordo entre cavalheiros, não deixa de ser uma perda da liberdade, da autonomia de agir de acordo com os seus princípios, com a sua ética. Esses conchavos além de serem uma forma de corromper o outro, não deixam de ser relações superficiais que, de uma hora para outra, podem ruir. E nesse momento quem tem mais a perder é quem é mais frágil, quem temos menos poder de barganha.
A dignidade de uma pessoa deveria ser algo imensurável, não aceitar participar desse jogo deveria ser visto como uma virtude. Contudo, na sociedade em que vivemos hoje, muitos alegam que é tolice, quando não motivo de menosprezo por desprezarem  o nível do caráter de quem se opõe a isso.
Além do mais, não participar de conchavos é primar pela liberdade de exigir o que lhe cabe por direito, de não se sujeitar a certas situações. E é por essa liberdade que nos têm por PERIGOSOS, por não nos terem de mãos atadas aos seus ditames e isso não pode acontecer com quem nos quer manter subjugados.

O meu caráter, minha liberdade, minha consciência NÃO TEM PREÇO. E espero que saibam disso!
    

O Complexo de Vira- Lata

Acabei de assistir ao Observatório da Imprensa, com Alberto Dines, abordando o tema Copa do mundo no Brasil. Da edição de hoje, participaram correspondentes estrangeiros que trabalham no Brasil, como o inglês Tim Vickery, o italiano Emiliano Guanella e o alemão Ralf Itzel. O programa buscava identificar a visão dos outros países acerca da organização e realização da copa aqui no Brasil. Desde o início, Dines colocou em análise (para não dizer dúvida) a nossa capacidade de realizar um evento como esse de forma positiva.
Com o ar professoral, cada um dos entrevistados pontuou as falhas de planejamento na execução das obras "para" a copa e, principalmente, o fato de que o brasileiro deixa tudo para a última hora e que faz do "improviso" uma de suas virtudes. Disseram também que, durante os jogos, ocorreriam intempéries - o que seria bastante interessante(?!) - e que, possivelmente, aconteceriam atrasos no início das  partidas, o que não deixaria de ser uma coisa normal para nós brasileiros, que já temos isso incorporado ao nosso espectro.
Ouvi, no entanto, uma observação positiva sobre o evento. O jornalista italiano, Guanella, afirmou que a copa era uma forma de apresentar o Brasil ao mundo, fazendo com que se conheça melhor o nosso país e nossas potencialidades, tanto em aspectos turísticos como também em outras áreas de nossa economia. Isso é uma verdade que muitos ignoram por questões meramente mesquinhas de pura politicagem.
entretanto, o que mais me chamou a atenção durante o programa foi ver Dines atuar como um mero e servil mediador, tendo o cuidado de sempre nos deixar em relação de desvantagem em relação às outras nações. Se o comportamento dele não fosse de quem compactuasse com a condição de inferioridade diante dos outros, seria, sem dúvida, uma postura política partidária de sua parte, transformando a edição do Observatório da Imprensa em espaço eleitoral para a oposição ao governo  federal. Seja qual for o motivo do comportamento do experiente jornalista brasileiro, o mesmo foi de uma infelicidade desnecessária e que em nada contribuiu para o debate a que se propunha, inicialmente, o programa.

Diante do exposto, é bom inicialmente que tenhamos a consciência de que não somos mais uma "colônia' e que não devemos, portanto, ter uma postura de servidão diante de outros povos. E, sendo assim, somos nós que devemos dar as cartas em situações como essa e não nos postar como mero ouvintes ou simplesmente fazendo coro com o que os outros falam de nós. O BRASIL é grande demais para esse desprezível papel. Além do mais, o momento que vivemos nos permite olhar de cabeça erguida, principalmente, para alguma nações europeias, como a Itália, que está mergulhada em uma grave crise sócio-econômica e também política.
Tampouco cabe a nós o papel de vermos pessoas a analisar como donos da verdade em questões que envolvem, por exemplo, as manifestações como as do ano passado. Não cabe a eles apontar se são ou não justas as reivindicações feitas nas passeatas e nem por quais motivos elas se deram. Em temas locais e bem mais complexos do que se imagina, não se pode fazer apreciações de valor a respeito do mesmos, sem se ter conhecimento de causa para tratar do assunto. Caso contrário seria legítimo questionarmos o custo dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, que foram 252% a mais do que se calculou para o evento, ultrapassando em cerca US$ 6,6 de dólares (mais ou menos R$ 13 bilhões de reais)* esse valor inicialmente previsto.
Além disso, já adquirimos maturidade e condições econômicas necessárias para deixarmos de ser subservientes às determinações de nações estrangeiras ou de organismos internacionais. O Brasil não é a Grécia, com todo o respeito que merecem os gregos, principalmente o farmacêutico aposentado Dimitris Christoulas, que se suicidou diante do parlamento em Atenas com um tiro na cabeça. A situação que levou a esse fatídico desfecho foi ocasionado pelo severo pacote econômico imposto pelo FMI e, de sobremaneira, pela primeira-ministra alemã Angela Merkel, como condição básica para que a Grécia recebesse ajuda financeira a fim de poder enfrentar a crise econômica em que o país estava (e ainda está) mergulhado.

O Brasil mudou, queiram ou não queiram, não nos sujeitamos mais a ouvir sermão de presidente americano e ficarmos de cabeça baixa, como ocorreu em 1999 (https://www.youtube.com/watch?v=MeAOen8vyiQ), por estarmos, naquela época,  de pires na mão, justificando-nos por nosso fracasso econômico fruto da incompetência de gestão do governo brasileiro daqueles tempos.

A copa começa depois de amanhã e com ela, segundo os entrevistados por Dines, chega ao fim uma era da  realização de grandes eventos como esse, pois não se admite mais que uma entidade como a Fifa, envolvida em escândalos de corrupção e de desvio de dinheiro - que o diga o brasileiro Havelange e seu querido genro Ricardo Teixeira -, bem como o COI apareçam como organismos supremos, ditatoriais e donos de eventos que não deveriam pertencer a uma entidade privada que só visa a lucros, mas sim a uma comunidade internacional, já que não deixa de ser um encontro de nações, o que é muito mais importante do que um simples torneio esportivo. 
Por fim somos nós que devemos dar um merecido chute no traseiro de um reles dirigente da fifa, como o senhor Jerome Valcke, mostrando a ele quem de fato são os brasileiros e quem na verdade manda nesse país.

Aos que sofrem do "complexo de vira-lata",só resta indicar apenas uma coisa: o divã de um psicanalista! 

Salve, salve Brasil!

*http://www.brasil247.com/pt/247/Olimpicos/72091/Duas-vezes-mais-cara-come%C3%A7a-a-Olimp%C3%ADada-de-Londres-menos-2-vezes-mais-cara-come%C3%A7a-Londres-2012.htm