segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Uma carta ao Basil


Esperança-NE, 2 de setembro de 2016.
Prezado Brasil

Meu nome é João, sou um brasileiro, nordestino e sertanejo por derradeiro, filho do meio de seu José Francisco e de dona Maria da Silva. Estou lhe escrevendo, porque tenho ouvido muita coisa sobre o nosso país, algumas delas que não consigo entender direito, pois o que vejo é bem diferente do que andam falando por aí, principalmente na televisão.
Veja só, Brasil, dos 5 filhos de seu José e de dona Maria três, os mais novos, ainda moram na mesma fazendola. O mais velho foi para o sul do país e o encostado a ele foi para a capital. Os dois partiram em busca de uma vida melhor longe daqui. Os que ficaram foi porque a vida mudou e é bom que se diga, para melhor. As coisas continuam difíceis, é verdade, porém não se parecem nem um pouco com as histórias que meus pais nos contam.
Meus avós, tios e pais, na época em que eram jovens não tinham muita opção: ou viviam da roça, nessas terras secas da região, trabalhando nas frentes de emergência durante a seca, ou iam para cidade grande, lá pelas bandas de São Paulo em cima de um pau-de-arara carregando as tralhas num matulão. 
Hoje a minha vida e a de meus irmãos mudou bastante. Embora a nossa propriedade seja a mesma, estamos conseguindo enfrentar a estiagem. Temos uma cisterna para armazenar a água da chuva, construída do lado da nossa casa por um programa de combate a seca do governo, que fez com que aquelas longas caminhadas pela caatinga em busca do precioso líquido diminuíssem muito. Agora só para levar a criação para beber é que vamos a um açude a umas léguas de distância.
Nós ainda ajudamos nossos pais na roça e com os animais, porém eles fazem questão de nós estudarmos. É bom que se diga que estou estudando num Instituto Federal aqui na sede do município, fazendo o curso de técnico em agropecuária. Eu já estou me preparando para o Enem, pois quero entrar na universidade pública daqui da região e me formar em agronomia. Meu pai diz que serei o primeiro “doutor” da família para orgulho de todos.
Quando éramos menores a situação era bem pior e nós tivemos que contar com uma ajuda financeira do governo através de um programa social. Agora, por já conseguirmos nos sustentar através da venda do leite de nossas cabras e do que conseguimos produzir no roçado, deixamos essa ajuda para quem precisa mais do que nós. Meu irmão, encostado a mim, está  fazendo um curso de capacitação através Pronatec para aprender a cuidar melhor da criação e da plantação. E olha que ele já aprendeu muitas coisas que vêm ajudando a mudar a nossa realidade.
Por isso, Brasil, não consigo entender o que muitas pessoas andam falando por aí. Pelo que elas dizem parece que o fim do mundo está próximo, que não há mais esperança para o nosso país. Talvez seja, penso eu, porque a vida delas não mudou tanto quanto a nossa. Olha, no ano passado, meu irmão mais velho e a família dele vieram nos visitar. Até a capital, eles viajaram de avião. Depois pegaram um ônibus até minha cidade. Meu pai chegou a falar sem conter o espanto diante da realidade em que viveu um dia: “tinha quem dissesse que um filho meu um dia ia poder viajar de avião e um outro ia estudar para ser doutor?! Se alguém me contasse, eu não acreditaria!”
Brasil, como nós podemos dizer que as coisas não avançaram e só pioraram? Não dá para falar isso.  Mas é certo que existem muitas coisas erradas, muita gente desonesta nas rédeas do poder. Também não se pode esconder que muitas pessoas endinheiradas não se contentam com o que têm e querem cada vez mais, não importando o que tenham que fazer para isso. Não se pode ignorar também que há muito a fazer para que nosso país seja uma nação de oportunidades iguais para todos e que de fato que ele se torne essa “mãe gentil”, de que fala o Hino Nacional. Porém, Brasil, não é destruindo tudo o que conseguimos de avanço que vamos acabar com os problemas que existem. Quem comia “acém” e passou a comer uma carne “melhor”, não vai aceitar voltar ao velho cardápio, vai querer é “filé mignon”.
Quero que as coisas continuem mudando, mas quero ser ouvido. Não aceito mais que decidam por mim qual vai ser meu futuro. Eu quero fazer minhas próprias escolhas, pois não foi só meu vocabulário que mudou, Brasil, eu agora aprendi a pensar e descobri que não tenho só deveres mas também DIREITOS, que não aceito que sejam negados.
Um abraço esperançoso de quem vai continuar acreditando e lutando por um país melhor e mais justo.

João Brasileiro da Silva

domingo, 23 de agosto de 2015

Oi, Nara!

Oi, Nara!


Não me tome como um oportunista que está aproveitando o momento para poder soar como alguém diferente. Não é isso, eu senti muito a sua partida. Para mim e para muitos que não conheciam os detalhes de sua vida, o que aconteceu com você foi algo inesperado. 

Olha, Nara, você tinha idade de ser minha filha e eu já corri o perigo de perder meu filho, por isso, talvez, esteja sentindo de forma especial o que lhe aconteceu. Sei que mal nos conhecíamos, embora nos encontrássemos todos os dias. Como estava sempre envolto com meus problemas e com meu corre-corre, não nos dei oportunidade de nos encontrarmos de fato. No entanto, Nara, minha filha lhe conheceu melhor, você fazia parte do dia a dia dela, por isso não sei como ela entenderá que não irá lhe encontrar mais nem tampouco o que ocorreu com você. Só que as crianças são capazes de nos ensinar que nada sabemos sobre elas e de compreender o que nós adultos não conseguimos aceitar. 

Sei que não podemos lhe pedir nada nessa hora, não é o momento de lhe cobrarmos alguma coisa, mesmo assim, perdoe-me. Perdão, porque diante de nosso egoísmo nos tornamos incapazes de perceber o outro, colocando-nos em uma redoma e imaginando que somente nós temos dificuldades, que apenas nós sofremos ou que nossos fardos são os mais pesados. E onde está o outro? Do nosso lado, só que não nos damos conta disso. Por esse motivo, perdão, Nara.

Saiba, Nara, que sua caminhada foi interrompida de forma inesperada, mas que você voltará. Sua história não terminou, ela apenas deu uma parada. Sei que os obstáculos que encontrará não serão menores do que aqueles com que você se deparou até aqui, daí sua missão será ainda maior. Não tenho como dizer conscientemente se já tínhamos nos encontrado antes ou, quem sabe, se ainda nos encontraremos, entretanto lamento que em nosso encontro de agora não tive a grandeza de perceber bem mais a sua presença.

Nara, parece fácil depois de tudo, dizer que se tivesse ideia de como era sua jornada, poderia ter tentado de alguma maneira persuadir você a não desistir e a lutar, a ver que nem tudo é como aparenta. Sei que não adianta muito agora, porém queria lhe confessar algo: não foi você a única a pensar em desistir, em um momento de angústia, de desespero, eu também já pensei assim. Queria que soubesse disso!

Uma vez, Nara, senti medo de perder a pessoa que mais amava e confesso, tomado pelo egoísmo, achando que se a perdesse nada mais importaria, pensei em por fim na minha passagem por aqui. Já sabia até como. Só que aconteceu algo que me fez acordar: o amor por minha filha.  

Nara, às vezes a ideia da dor da perda nos parece ser maior do que tudo e, talvez, por fraqueza, não vemos que a maior prova de amor que se pode dar a alguém é buscarmos força para seguirmos em frente. Não obtive esse desejo de continuar em mim, mas no outro, em meu filho por continuar lutando por ele e na minha filha por perceber que a jornada dela estava só começando e que eu não poderia deixá-la sozinha. É certo, Nara, que nossas "histórias" são bem diferentes; no entanto, se tivesse percebido sua presença, quem sabe se não poderia ter contado a você a minha história e, acima de tudo, ouvido a sua. Por isso, perdão, Nara.

Você era tão jovem e com um longo caminho pela frente. Não poderíamos ter deixado você desistir, tínhamos que ter tentado convencer você a continuar, oferecendo-lhe muito mais do que lhe demos. Entretanto, somos incapazes, às vezes, de perceber que não estamos sozinhos no mundo e que temos que nos dar as mãos. Seria mais fácil para todos, não acha, Nara? Infelizmente nem sempre isso acontece.

Não sei se essa é de fato uma despedida, quem sabe nossos caminhos não se cruzarão de novo um dia, em algum tempo. Espero que, tendo a oportunidade de lhe encontrar novamente, possa ter a grandeza de perceber muito mais sua presença. Sentiremos sua falta e de onde estiver, procure ver o quanto você era importante e o quanto nos vai fazer falta. Um grande abraço de todos nós e em especial de Clarinha.


Marcelo Macêdo e Clara





P.S.: Nara, sei que aparentemente mal nos conhecíamos, mas saiba que estou sentindo muito a sua partida, não sei lhe dizer ao certo por qual razão, talvez, porque você poderia ter sido minha FILHA!        

    

  

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Tem hora que cansa

"Simplesmente não dá!" Tem horas que dá vontade de jogar a toalha, pois é difícil ficar remando o tempo todo contra a maré. E o pior ficar fazendo isso todos os dias, semana após semana, mês após mês... Parece redundância, mas não é. Sempre é o mesmo do mesmo, não há novidade, não há algo que motive - tem momentos que acontece isso mesmo. Dá vontade de jogar tudo para o alto e saí por aí, sem destino. E o que se faz, então? Continuo tentando por teimosia.

Não é falta de esperança, porque se o fosse já havia desistido. Pelo contrário, é ela que ainda me impulsiona, que me faz levantar e seguir. No entanto, a vontade de desistir diante de cada insucesso torna-se cada vez maior e a luta para continuar aumenta na mesma proporção. Isso cansa, principalmente, quando não se tem trégua nem para respirar.

Outra coisa que desestimula é falta de reconhecimento pelo esforço. Parece que você não está fazendo nada, ou melhor, não se percebe o que você faz, o que é o pior de tudo. Se pelo menos, em meio a tanto esforço, ouvíssemos uma palavra de incentivo, iríamos nos reabastecendo de energia. Porém, não esse fato que ocorre, dá-se justamente o contrário, sugam até a última gota de suas forças e ainda exigem mais. Tudo tem um limite e há momentos que ele está próximo.

Se as pessoas tivessem discernimento para entender que dar é tão ou até mais importante que receber, o fardo diário diminuiria de peso. Não, infelizmente, não enxergam, quer dizer, não querem enxergar as coisas como elas são. Para que tirar essa venda dos olhos? É óbvio, admitindo a verdade do que veem, teriam que mudar de postura. Só que tal situação exige esforço e se esforçar poucos ou quase ninguém quer fazer. A situação é cômoda, confortável: se tem que faça por mim, por que então iria fazer.

Essa lógica é perversa. Ela se respalda no egoísmo em que muitos estão mergulhados. A falta de desejo de enxergar o outro é a principal questão dos males que nos afligem. Tal condição não dá mostra que irá mudar, na verdade a tendência é o contrário ocorrer. Cada um se fecha no seu mundo, achando que vai conseguir tornar-se uma pessoa feliz. Só que isso não ocorre; tonando-se todos, dessa forma, reféns de nossas próprias fraquezas.

Hoje tenho uma sentença, que não é nada positiva. Se amanhã minhas perspectivas se tornarão positivas, não sei. É bem melhor nem pensar muito,uma vez que a lógica do que se vê não são nada animadoras.

Essa luta cansa e agora estou extenuado. Esse texto é o retrato da fadiga, da falta de ânimo para continuar em frente. Só espero, honestamente, ter oportunidade de produzir algo bem diferente, porém é preciso inspiração, que anda meio escassa. Quem souber da existência de algo que nos sirva para revertemos essa trajetória, pratique o altruísmo, por piedade, nos informe.

Marcelo Macêdo       

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Todos têm o direito a expressar suas opiniões

Ao ler um artigo publicado pelo jornalista Ricardo Kotscho da Record News, em seu blog "O Balaio do Kotscho", em que ele trata da questão da PETROBRAS, através de um artigo cujo título era "PETROBRAS: eis o preço da teimosia de DILMA", senti-me instigado a expor o que penso a respeito do que ele afirmara. Eis o resultado do meu desassossego diante do que li.

Comentário sobre artigo publicado no Balaio do Kotscho


Kotscho, antes de qualquer coisa, gostaria de externar o respeito ao seu trabalho e ao de outros profissionais como seu amigo de bancada Heródoto. Entretanto, você há de convir que admiração e respeito não se traduzem como obrigação de comungarmos do mesmo pensamento. E com base nesse tema tão batido quanto distorcido que é o do direito à liberdade de expressão, que  peço permissão para discordar de alguns pontos de seu "artigo".
Primeiramente, quando você diz: "...nada entendo de balanços nem de economia, mas não é preciso ser nenhum especialista para saber que lucro é lucro, prejuízo é prejuízo, tanto faz se é numa instituição pública ou privada. Toda empresa tem que dar lucro ou acaba fechando. E a Petrobras não é uma entidade de benemerência"; reforço que estou no mesmo patamar de você em relação ao entendimento de questões econômicas, muito menos da lógica de um mercado financeiro especulativo como o que temos nos últimos tempos. Mesmo com essas limitações, que ambos assumimos, discordo de seu ponto de vista sobre ser por "uma questão de teimosia" de DILMA a derrocada da situação da Petrobrás.
Essa argumentação me parece simplista demais para explicar a complexidade de análise que o tema exige. Há com certeza inúmeras outras variantes a serem consideradas. Por exemplo, arrisco-me a trazer a discussão sobre as razões que levam grandes exportadores de petróleo como os Estados Unidos e a Arábia Saudita a baixar a cotação do barril aos níveis atuais. Seria essa apenas uma questão mercadológica? Tenho certeza que não. Digo isso porque quando vejo as colocações da mídia acerca dos ativos e do valor das ações da companhia brasileira, tudo parece se relacionar única e exclusivamente à seletiva operação Lava jato.
Quanto a isso você afirma que “De nada adianta agora Dilma fazer discursos denunciando os  inimigos internos e externos interessados na privatização da empresa. Que eles existem, e são poderosos, cansamos de ver todos os dias na mídia familiar, mas isto não resolve o desafio imediato, urgente, inadiável: evitar a quebra da empresa, com o contínuo derretimento das suas ações e dos seus ativos...”. Como não, Kotscho? Tudo faz parte do contexto, minimizar a importância desses agentes é que seria um erro.
Por exemplo, nunca havia ouvido falar de George Soros, até dar atenção a notícias sobre bolsa de valores, mercado especulativo, efeitos nocivos da globalização... Bem, Kotscho, esse megainvestidor, chamado pelo seu colega da revista EXAME, Marcelo Poli, em um artigo publicado no dia 10 de fevereiro do ano passado, sob o título de “Soros prova (de novo) por que é o melhor gestor do mundo”, como o incansável (sic) Soros (http://exame.abril.com.br/mercados/noticias/george-soros-prova-de-novo-por-que-e-o-melhor-gestor-do-mu), é acionista da Petrobras. E esse tal “melhor gestor do mundo”, conforme matéria do jornalista Altamiro Silva Júnior, divulgado no site de economia do Estadão, no dia 19 de dezembro do ano passado, ou seja, há um pouco mais de um mês, remando contra a maré dos fundos de pensão norte-americanos, vinha comprando ações da Petrobrás e só no ultimo trimestre de 2014 dobrou a quantidade de papeis da empresa em sua carteira (http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,megainvestidor-george-soros-compra-mais-acoes-da-petrobras,1609845).
Ele fechou o ano com 5,1 milhões de ações e de opções de compra de papeis da estatal brasileira contra 2,4 do trimestre anterior e 2 milhões do primeiro período do ano passado.
O que dizer disso, Kotscho? O homem ficou louco ou continua sendo um exemplo para quem quer investir no mercado financeiro? Nós dois é que não sabemos de nada, meu caro.
Uma outra coisa, o que são ativos? Ou melhor, de quais tipos de ativos se compõe uma empresa da dimensão da nossa petrolífera? Para o povão ou para aqueles que não têm noção e muito menos se interessam pelo assunto, qual o nível de consciência que essas pessoas têm sobre tais NOMENCLATURAS contábeis? É muito fácil causar impactos negativos no meio da população quando números catastróficos em manchetes de jornais  viram, de uma hora para outra, assunto de botequim. Da mesma forma que gráficos apresentados em cadeia nacional em nada esclarecem as dúvidas da população. Nesse sentido, espero honestamente que Heródoto não se transforme em um Sardenberg da Record News.
Kotscho, observo em seu artigo que você coloca que: “Vejam bem, não estão em discussão a competência e a honestidade de Dilma e Graça, mas a presidente da Petrobras está visivelmente com seu prazo de validade vencido. Nem ela aguenta mais”. Concordo plenamente sobre a insuspeita competência e, principalmente, da inquestionável honestidade de DILMA e de GRAÇA. Agora, daí a dizer que o prazo de Foster está vencido e que deve ser dado um sinal para a recuperação credibilidade junto ao mercado, como no caso da nomeação de LEVY para o Ministério da Economia, são outros “quinhentos”.
Você acha honestamente que o mercado está preocupado com credibilidade? Tenho lá minhas dúvidas. Para mim, a saída de Graça da presidência da Petrobras seria sim um sinal de que o governo e o país estariam reféns do “deus mercado”. Quer dizer, o governo realmente estaria dando uma guinada à direita, cometendo de fato um estelionato eleitoral.
Os desmandos de corrupção da companhia começaram nos governos do PT? Só os ingênuos leitores e telespectadores da grande mídia brasileira acreditam nisso. Tenho plena convicção de que você não concorda com essa “leviana” insinuação. Por que então creditar o ônus dessa situação à atual diretoria? Em relação a esse aspecto é claro que não se podem dimensionar os prejuízos causados à empresa ou ao país. Não é, todavia, trocando a equipe gestora que se provará ter credibilidade e sim punindo os envolvidos de forma exemplar por aspectos jurídicos e não políticos, como foi no caso da Ação Penal 470.
Há de sua parte também uma preocupação com as ações impetradas pelos acionistas estadunidenses junto à justiça do país deles contra a petrolífera brasileira. Querem fazer o mesmo que fizeram com a Argentina. De repente, surge um “magistradozinho” de lá querendo que o governo argentino decretasse a moratória em defesa dos credores ianques. Ora, os Estados Unidos levaram o mundo à bancarrota em 2008, deixando a economia mundial se arrastando, agora só eles dão sinais de crescimento, enquanto outros países não conseguem sair da quebradeira. Os norte-americanos ganham e o restante das nações está à beira de uma recessão. Que lógica é essa? Não acha que eles têm interesses escusos quanto à PETROBRAS, Kotscho? É com eles que devemos nos preocupar?! Não, é com nós brasileiros.
Além disso, e o que é mais importante, a PETROBRAS não é uma mera empresa de mercado aberto, ela é o principal agente de um ponto estratégico para a soberania nacional. Há inúmeras questões agregadas ao futuro do país do que apenas lucros e dividendos para os seus acionistas. A PETROBRAS não é nenhum time de futebol – nada contra o seu São Paulo -, cuja Presidência da República deve agir como qualquer cartola do nosso falido país das chuteiras que tem que atuar para a torcida, trocando o técnico do time na má fase. Crer nisso é um absurdo?! 
Muito menos se pode comparar a nossa ESTATAL ao McDonald’s de reputação abalada, que demitiu seu presidente, seja ele quem for, por um prejuízo de 1% em seus lucros. Foi totalmente INFELIZ a sua comparação.
Outra coisa, a PETROBRAS não pode ser comparada com a PETROBRAX e ser simplesmente privatizada como a SABESP.  Veja no que deu e tem mais o PRÉ-SAL não é a Cantareira. Será que dá para comparar o futuro dos paulistas em relação ao abastecimento de água com o futuro do país em relação aos dividendos dos ROYALTES do petroleo? Nem com todos os volumes mortos e a reutilização das águas do Tietê, os futuros podem ser comparados.
Kotscho, o BRASIL não só vive uma crise quanto à economia e à corrupção, mas em outras áreas também, como a do JORNALISMO. A mediocridade e a decadência da imprensa e da grande mídia como um todo é algo deprimente. Os seus abjetos representantes tendenciosos que fazem de seu trabalho um instrumento de alienação não merecem nenhum crédito. Contam-se nos dedos os membros de sua classe que não foram cooptados pela máfia instalada nas entranhas do país. Kotscho, sou um admirador de seu trabalho como de outros remanescentes de um período que já não existe mais no jornalismo brasileiro, por isso torço que seu “balaio” não seja contaminado por esse mal. Não faça a mim e a outros tantos acreditarem que todos vocês jornalistas são iguais e fazem parte desse jogo sujo.

Marcelo Macêdo

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

À busca de respostas - II

Há muito tempo, um sonho sempre se repetia durante minhas noites. E o que mais me intrigava nele era que tudo se repetia nos mínimos detalhes. Se havia alguma coisa diferente entre eles, deveria ser tão sutil que nem percebia. A imagem nunca saiu de minhas lembranças, embora nunca tenha entendido o que ela queria me dizer.

Nesse sonho, eu observava um jovem sentado com uma garota deitada sobre suas pernas. Ele estava angustiado, porque a moça, que repousava apoiada em seu corpo, agonizava. A jovem parecia ferida, pois em suas vestes o vermelho-sangue predominava. O rapaz olhava para aquela situação resignado, acreditando que o destino já tinha sido traçado para ela, sem que ele pudesse fazer mais nada. Próximo aos dois, havia mais alguém. Hoje tenho a impressão que fosse uma outra jovem que se encontrava ali, mas não tenho convicção disso.

Diante daquela cena de sofrimento, mesmo sendo noite, pessoas andavam agitadas, ignorando o que se passava. Era como se nada demais estivesse ocorrendo. Para aquela gente a situação de desespero parecia ser algo comum. Eu, que assistia a tudo, nada podia fazer a não ser tentar compreender o que se sucedia naquele lugar.

O sonho se encerrava sem que soubesse qual tinha sido o fim daquelas pessoas, qual teria sido a sorte da garota e o destino dos demais envolvidos na história.

E era sempre assim, o roteiro se repetia sem alterações. Tantas eram às vezes que essas visões se sucediam durante minhas noites que nada era mais surpresa, eu sabia de cor o que iria acontecer. Entretanto, o sofrimento daqueles jovens e minha angústia de não poder interferir em nada, nunca diminuía.   

Com o tempo, esse sonho foi se tornando menos frequente, mesmo assim suas lembranças nunca saíram da minha mente. Se alguém me perguntar quando foi a última vez que tive esse sonho, não saberei dizer ao certo, só sei que já faz um bom tempo.

Uma outra coisa que chamava atenção era o fato de não saber quem eram aquelas pessoas, mesmo que elas me aparentassem ser conhecidas. Da fisionomia deles, não consigo lembrar, se é que algum momento consegui percebê-las de forma nítida.

Agora a pouco, para minha surpresa, o sonho voltou só que com uma roupagem diferente. Eu participava efetivamente de tudo e os envolvidos eram pessoas que conhecia perfeitamente.

Já não era noite, tudo se passava à luz do dia. Eu, acompanhado de uma mulher, observava de uma janela uma estrada, por onde viria uma garota pela qual nós esperávamos chegar. De repente, presenciávamos um terrível acidente, envolvendo a pessoa que aguardávamos.

Em meio àquela situação, eu saía correndo em direção aonde o desastre acontecera. Minha angústia era pelo estado da garota. O seu possível falecimento era o meu maior receio.

Ao chegar ao local, encontrei a moça caída sem sentidos. De início, tive a impressão que ela havia partido. Coloquei-a deitada sobre minhas pernas, certo de que o pior teria acontecido. Em meio àqueles angustiosos instantes, notei que ela respirava. Estava viva! O meu alívio me trouxe a felicidade de que não a perdêramos. A garota sobrevivera. O sonho terminou ali.

De início, não notei a possível  ligação entre os dois sonhos: o de outrora e o de hoje. Com um tempo, em um momento de reflexão, quando nosso pensamento voa, dei-me conta de que poderia ser o mesmo sonho, só que agora ele me parecia mais claro. Mesmo assim, não conseguia entender o que ambos queriam me transmitir.

Como se fosse uma trilogia, um dia desses, tive um outro sonho que não reproduzia a mesma cena, no entanto, passou-me a impressão que estava interligado aos demais.

Nesse último "capítulo", a cena também se passava à noite. Chovia forte, estava meio escuro, a iluminação não era tão boa assim. Eu não participava diretamente do que acontecia, mais uma vez assistia a tudo.

Em meio à escuridão surgia a imagem de um rapaz que carregava nos braços uma garota. Era como se eles tivessem vindo de algum lugar em que a moça se encontrava e de lá teria sido resgatada por ele. O mesmo parecia ser um pouco mais velho que ela, que tinha uma fisionomia ao mesmo tempo jovial e frágil. Quando a menina percebia que estava chovendo, ela questionou o rapaz sobre o fato de chover. Ele, tranquilizando-a, dizia que não havia nenhum problema. Andar na chuva parecia ser uma travessura sem riscos que os dois iriam praticar. Ela, preocupada com seu benfeitor, ao ouvir que a chuva não o incomodava, sorriu sentido-se ainda mais segura em seus braços. 

Observando os dois se afastarem pela escuridão daquela rua, algo me chamou a atenção e é aí que, para mim, está o principal momento que aquelas imagens me mostraram. O fato de ele ter dito a garota que a chuva era o que menos importava naquela hora e o sentimento de segurança que aquele gesto deu a ela, fez-me sentir o que de mais pleno pode haver entre duas pessoas. É algo que, por mais que me esforce, não consigo traduzir em palavras. Era um sentimento que mesmo sem saber descrevê-lo, tenho a certeza e a noção da plenitude daquele momento. Era como se os dois tivessem se transformados em uma só pessoa.

Acordei-me sem nenhuma angústia, muito pelo contrário. O que antes era dúvida, saltou diante de mim como a mais densa das certezas.

Hoje estou certo de que a razão das nossas ações não se traduz em nós mesmos, mas sim nos outros pelos quais fazemos alguma coisa. Além disso, passei a ter a noção de que, às vezes, o mais nobre dos sentimentos estar sintetizado no fato de abrirmos mão dele, sem nos prendermos apenas a nossa satisfação pessoal, individual. A grandeza desse sentimento se mostrou, aparentemente, de forma clara para mim, quando ele se traduz na renúncia ao mesmo. Ou seja, esse sentimento não acaba, se transforma.

Posso dizer, talvez, que pude perceber o valor das pessoas que fazem parte de minha vida de uma maneira mais profunda. Descobri que não abro mão delas por nada, que o amor que tenho por elas é maior do que a minha satisfação individual. Que a essência do mais nobre dos sentimentos está na mesma proporção do desprendimento que temos acerca das nossas próprias individualidades. 

Se essa é a derradeira leitura que faço do que seria o verdadeiro sentimento pelo outro, não posso afirmar, pois a vida a cada momento nos faz ver as coisas de forma mais nítida. E esse processo de amadurecimento nunca se encerra para nossa sorte, ele é contínuo e processual.

Por fim, se há algo a mais em meus sonhos, não sei (ainda). Por essa razão, é que esse é mais um questionamento para o qual ando à busca de resposta.

Marcelo Macêdo  

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O Crime de Omissão

Entre os historiadores há uma dúvida sobre a data que marcou o fim da Segunda Guerra: em maio com a rendição dos alemães ou em agosto com capitulação dos japoneses, após o lançamento das duas bombas atômicas. Seja qual for a data, este ano deve servir mais uma vez para uma análise sobre os erros cometidos que permitiram que ela acontecesse.

Há quem diga que muita coisa pudesse ter sido diferente e milhares, senão milhões, de vidas poderiam ter sido preservadas, caso tivessem sido considerados os sinais de perigo apresentados através dos dois volumes que compuseram a obra "Mein Kampf", MINHA LUTA em português, escrita (ou ditada) por Adolf Hitler. Muitas das suas intenções estavam ali descritas só que as outras nações ignoraram os prenúncios do que iria acontecer, se o ditador nazista chegasse ao poder.

Faço essa reflexão com o intuito de apontar a omissão como um crime cometido, mas ignorado pelas pessoas. Seja ela em relação aos fundamentos nazistas tratados em Mein Kampf ou sobre qualquer outra evidência de perigo iminente para a sociedade. E em alguns casos essa "omissão" deveria ser considerada dolosa e não culposa. Afirmo mais, que essa falta de uma ação preventiva não deve ser considerada apenas naquilo que se liga diretamente a crimes contra a vida, mas também em inúmeras outras situações resultantes de nossa letargia.

Nesse contexto, esse crime de omissão não deve ser entendido apenas no que se refere às autoridades e sim em relação à própria sociedade como um todo. Nossa passividade também levam a crimes cometidos.

Porém, para que fatos históricos, como as duas grandes guerras, sirvam de aprendizado para esta e para as futuras gerações, cabe a nós apresentarmos de forma objetiva o que esses fatos históricos representaram para a humanidade. Questiono, nesse sentido, o papel das diversas instituições existentes - o estado, os partidos políticos, a escola, a mídia e demais instituições sociais - como fomentadores do trabalho de conscientização política a ser feito junto aos jovens, principalmente.

Sem essa conscientização não conseguiremos contribuir para o combate contra os radicalismo e a ignorância política marcas da sociedade contemporânea.


Marcelo Macêdo

sábado, 17 de janeiro de 2015

A PROVA QUE O MUNDO DÁ VOLTAS

Sem sarcasmo, é só uma observação. Nós aqui de cima do país nos acostumamos a ver, geralmente nos finais de ano, inúmeros abnegados cidadãos paulistas se reunirem para arrecadar mantimentos, presentes... e virem para cá - sempre aos holofotes do PIG, para que todo mundo veja como é grande o coração dessa gente -, como os verdadeiros emissários das boas-novas, fazendo caridade, tirando um sorriso daquelas tristes e minguadas crianças do nosso semiárido. No fim de sua missão, eles deixam a todos esperançosos, garantido que voltarão no ano seguinte.
Pois é, parece-me que chegou a hora de retribuirmos tão generosas peregrinações. 
Que nos unamos nessa corrente solidária e partamos rumo à "terra da garoa" para ajudar nossos irmãos do sudeste, seja lá de que forma for. Quem sabe através de palestras dos nossos "senhores do tempo"; de troca de experiências entre as mães nordestinas,que aprenderam a cuidar de seus filhos mesmo sem ter o que lhes dar muitas vezes de comer, e as senhoras do Morumbi, dos Jardins, de Higienópolis... sobre como lidar com a família e com a casa em tempos de seca; do testemunho dos nossos jovens para demonstrar aos filhos de nossos irmãos como não perder a fé no futuro, mesmo que tudo contribua para o contrário; enfim que os ensinemos as nossas rezas para que eles entendam o porquê da nossa crença no Padre Cícero e, quem sabe, eles se tornam também devotos de nosso "padrinho", já que São Paulo não está dando conta de tudo sozinho... e no final de tudo, mostrarmos humildemente que, apesar de morarmos em regiões distintas,fazemos parte de um só POVO brasileiro.
Amém!

Marcelo Macêdo