Há quem não concorde com ideia de que a maior dificuldade de se viver hoje em dia - senão sempre - são as relações humanas. Para os que discordam, o que é perfeitamente normal, aponto que a facilidade ou dificuldade de viver estão proporcionalmente ligadas às relações que conseguimos estabelecer com nossos pares, quer seja no âmbito pessoal, quer seja no profissional. E é nesse ponto que vem, para mim, o cerne do problema: as pessoas constroem suas relações de acordo com os "conchavos" que conseguem estabelecer com os grupos sociais a que pertencem.
Viver em sociedade não é algo fácil, as dificuldades são inúmeras. Assim, para muitos, se se pode minimizar tais atropelos, obstáculos, fazendo acordos e concessões, por que não os fazer? As causas justificam os meios maquiavélicos que usamos para alcançar o que queremos. Para muitos, isso é um fato!
No entanto, quando esses acordos em forma de conchavos são feitos, cria-se aí uma relação de interdependência entre as partes, sendo que um tem o outro nas "mãos", para quando for necessário, cobrar-lhe a fatura. Nesse caso o limite, se é que ele existe, passa a ser um espécie de "valor" pelo qual, muitas vezes, pode ser mensurado o caráter de alguém. Dependendo do nível do acordo fechado entre as partes, é possível se avaliar isso como sendo o preço pelo qual uma pessoa aceita sujeitar-se a determinadas situações.
Infelizmente, em nosso cotidiano, isso é comum. E quando você não se encaixa nesse jogo, passa a ser visto como alguém "perigoso", pois as partes que fizeram o acordo entre si não podem titubear, uma vez que as suas ações podem ser percebidas por quem não faz parte de seu "time". Fica-se estabelecido, então, que é preciso isolá-lo, senão eliminá-lo, sem exageros é lógico.
Ceder a esse conchavo é o mesmo que se vender, uma vez que sempre haverá uma fatura em aberto entre você e seu cúmplice. Cúmplice sim, porque muitas vezes esses conchavos são para encobrir algo que não é o mais correto a ser feito. Há uma troca de favores, de vantagens entre as partes.
O conchavo também é usado por alguns, que não conseguem obter respeito ou liderança de seus subordinados de forma natural, como uma forma de estabelecer uma hierarquia, de poder sobre os mesmos. Daí se questionar o valor da liderança que se estabeleceu com sua "equipe"!
Aceitar fazer parte desse acordo entre cavalheiros, não deixa de ser uma perda da liberdade, da autonomia de agir de acordo com os seus princípios, com a sua ética. Esses conchavos além de serem uma forma de corromper o outro, não deixam de ser relações superficiais que, de uma hora para outra, podem ruir. E nesse momento quem tem mais a perder é quem é mais frágil, quem temos menos poder de barganha.
A dignidade de uma pessoa deveria ser algo imensurável, não aceitar participar desse jogo deveria ser visto como uma virtude. Contudo, na sociedade em que vivemos hoje, muitos alegam que é tolice, quando não motivo de menosprezo por desprezarem o nível do caráter de quem se opõe a isso.
Além do mais, não participar de conchavos é primar pela liberdade de exigir o que lhe cabe por direito, de não se sujeitar a certas situações. E é por essa liberdade que nos têm por PERIGOSOS, por não nos terem de mãos atadas aos seus ditames e isso não pode acontecer com quem nos quer manter subjugados.
O meu caráter, minha liberdade, minha consciência NÃO TEM PREÇO. E espero que saibam disso!
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