segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Apenas uma reflexão de um eleitor brasileiro

Nassif,

Li a pouco no site BRASIL 247, uma análise da conjuntura de momento do processo eleitoral assinada por Marco Damiani, da qual discordo, tenho minhas restrições. O título do post era OS 15 DIAS QUE IRÃO DECIDIR O FUTURO POLÍTICO DO PT.  (http://www.brasil247.com/pt/247/poder/156713/Os-15-dias-que-decidir%C3%A3o-o-futuro-do-PT.htm)

Discordo inicialmente do que li, porque ele parte para a análise tendo como base a pesquisa divulgada pelo Instituto Sensus. Quero deixar claro que não discuto a legitimidade da pesquisa, mas a considero totalmente equivocada ao apresentar a eleição como decidida e os números por ela apresentados.

E meu principal ponto de discordância com Damiani é o de ele colocar em xeque o futuro político do PT. Não é o Partido dos Trabalhadores que tem seu futuro ameaçado pelo resultado da eleição presidencial, mas o PSDB.

Explico, lembro a todos os comentários dos especialistas que diziam que, com a possível derrota mais uma vez para o PT, os tucanos estariam fadados a se tornarem o “novo” DEM. Essa imagem ficava ainda mais forte, quando se vislumbrava que Aécio nem chegaria ao segundo turno, sendo derrotado por Marina – não digo PSB, do qual ela só o fez de partido de aluguel, só não entendeu isso quem não quer como, infelizmente, a Srª Campos. 

Por desmando da própria candidata Marina, Aécio conseguiu superá-la e se sobressaiu em São Paulo muito mais por características do eleitorado do estado do que por sua proposta de governo. E é enigmático, se é que se pode dizer isso, o ódio ao PT tido pelos paulistas.

O PT, em contrapartida, derrotou duplamente Aécio em Minas: Pimentel eleito em primeiro turno e Dilma mais votada do que o neto de Tancredo, dentro do reduto eleitoral dele. Outra vitória também marcante foi a obtida por Rui Costa na Bahia, vencendo no primeiro turno e deixando, a meu ver, que o “carlismo”, que aparentava ter ressurgido com a vitória de ACM Neto, parecendo agora mais o “último suspiro de um moribundo” do que qualquer outra coisa.

Além do mais, imaginando que Aécio vença, o mesmo terá uma grande tarefa que é a de provar para o Brasil que o projeto neoliberal capitaneado por Armínio Fraga e referendado por FHC é melhor do que o vivenciado, ao longo desses último 12 anos durante os governos petistas. E aí, para mim, vem um obstáculo intransponível para o tucano: o projeto neoliberal, já experimentado, não contempla a maioria da população. Muito pelo contrário, o governo de Aécio seria o de estar a serviço do mercado financeiro dos mesmos de sempre: uma pequena parte da população ou, por assim dizes, os mais abastados – não os abestados eleitores de TIRIRICA.

O mais preocupante, no entanto, é que com a vitória do tucano, o “quarto poder”, a grande mídia comandada pela Globo, sairia ainda mais fortalecido por ter tido êxito – compreenda-se aqui derrotar o PT - com uma ação muito bem orquestrada pela imprensa brasileira. Esse é o maior perigo para o futuro do país, senão a prova que grande parte da população ainda está sujeita a alienação coletiva produzida pela grande mídia. Em parte, com toda a exploração midiática da morte de Eduardo, o PIG já obteve um grande resultado que foi a vitória de Paulo Câmara em Pernambuco. Que perdoe-me a família da Srª Renata, mas foi a exploração da imagem do ex-governador morto no trágico acidente o maior trunfo eleitoral do PSB-MÌDIA, nessa eleição.

Há um outro ponto na análise de Damiani de que discordo, ele diz “Assim como tem realizações para mostrar, o partido também sabe que sofreu um pesado desgaste nos 12 anos que está passando no poder. A partido nascido e criado para responder ao permanente anseio de crescimento e renovação do País pela maioria da população vai sendo taxado como o velho e o ultrapassado. A resposta a essa acusação não está se mostrando convincente”. Quanto ao desgaste, isso parece ser inerente a quem estiver no governo, excetuando-se aí São Paulo – que um caso digno de uma tese de doutorado -, mas dizer que o PT estaria sendo o retrato do velho e ultrapassado, considero quem poderia ser visto assim não é o partido de DILMA, mas o de Aécio, o PSDB.  Digo isso porque, longe do planalto a 12 anos, os tucanos apresentam agora como solução para um mundo e um Brasil muito diferente daquela da época de FHC, os mesmos nomes , Armínio Fraga é um deles, e basicamente um projeto neoliberal que a crise mundial demonstrou que ele já não corresponde ás necessidades da atualidade. Esse projeto fracassou! Uma outra coisa, considerar Aécio como uma nova liderança é ignorar a disputa interna entre os tucanos paulistas e mineiro, ao longo desse tempo, em quem indicar para concorrer à presidência. O nome do mineiro surgiu pelo desgaste dos nomes de Serra e de Alckmin e de suas seguidas derrotas para os petistas. Dilma sim foi uma novidade lançada na corrida presidencial de 2010 por LULA. Fernando Henrique  e seus correligionários  não conseguiram fazer uma nova liderança ou nome de peso dentro do partido tucano. Portanto, para mim, não é o PT que tem a imagem de velho e ultrapassado.

Podem, então, perguntar se o PSDB vencer será a vitória do “velho” contra o “novo”, discordo, pois há muito mais questões envolvidas nesse pleito do que somente esse ponto.

Não quero, diante de tudo, dizer que uma derrota de DILMA não seria um baque para o PT, porém vislumbro que não seria o fim do partido e de seus ideais, muito pelo contrário, poderia ser a guinada à esquerda que o partido precisava para se fortalecer. E cito uma coisa a qual venho cada vez mais vislumbrando como algo que pode se concretizar em uma boa surpresa: está surgindo uma nova liderança na política nacional, que atende pelo nome de HADDAD.

O surgimento do nome de HADDAD na política nacional requer um cuidado especial com a sua trajetória frente ao governo da capital paulista, que tem de ser muito bem conduzida, dando a mesma uma característica própria, o que pelo que vejo daqui, o petista já vem conseguindo. Ele pode representar o novo tão desejado, principalmente, principalmente pelo eleitorado jovem. E quando você olha para o outro lado – o da oposição – quem poderia ser indicado como o representante do “novo” fazer política: Anastasia em Minas, Geraldo Júlio em Pernambuco... quem? Anastasia não tem nada de novo e versão mais atualizada do jeito tucano de ser. Geraldo o novo Campos, não tem envergadura para isso.

Se LULA com seu apurado senso político ainda não se deu conta disso, é porque agora o que mais importa é reeleger DILMA. Mas, tenho impressão, que a indicação de HADDAD para a prefeitura paulistana foi como um “ENEM”, uma “FACULDADE” em que ele teria de superar e, principalmente, aprender como lidar com o mundo político num âmbito maior do que a de um ministro. Pelo que sei e leio a respeito do prefeito petista, ele já tem meu voto em 2018.

E nesse contexto, Nassif, é que vejo sem um horizonte mais amplo a oposição, quer ela ganhe ou perca a eleição. O PT, se derrotado, perde muito, mas não o rumo que parece, em alguns momentos, ter reencontrado. Já a oposição não consegue enxergar o óbvio: as coisas não são mais como 2002, elas mudaram e radicalmente, em alguns aspectos

Caro Damiani, numa democracia o que mais vale é a discussão com base em argumentos e esses são os meus, sem que com isso esteja ignorando os apresentados por você. Nós, como todos os brasileiros, temos que aprofundar nossas discussões acerca do futuro do país e não fugir dela.

 

Marcelo Macêdo

 


P.S.: Nassif, não poderia deixar de salientar uma coisa, todos nós, que apresentamos uma preocupação com a despolitização do brasileiro, temos uma missão a cumprir. É a de fazer um trabalho árduo, mas necessário que é o de abrirmos cada vez mais espaço para discutirmos política. E isso vale não só para blogueiros “sujos” ou para os que militam nas redes sociais, mas  também para os movimentos sociais, sindicatos ente outros, pois talvez tenha sido esse o principal legado deixado pelos protestos do ano passado. E acredito ser essa realmente a nova forma de fazer política no BRASIL.

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