domingo, 27 de abril de 2014

A teoria do medo

O prazer de ler nos dá oportunidade de descobrir, às vezes em um simples momento, algo que nos é de grande valia. Só que ler é uma questão de atitude, não podemos esperar que os prazeres e saberes proporcionados por ela venham até nós, é preciso buscá-los onde quer que estejam. E foi em um desses momentos de procura pelo saber, que me deparei com um texto que me fez sentir a necessidade de refletir sobre algo peculiar: em que consiste o ato da fé. 
Nesse texto, o autor fazia uma análise de sua vida. Dizia que havia sido, por um tempo, um homem ligado ao crime, tendo sido inclusive preso por isso. Contava que, quando criança, era levado por sua madrasta praticamente "arrastado" à igreja. E ao chegar lá, ouvia o pastor falar apenas de pecado e do inferno. Isso o fazia viver tomado pelo medo, sentindo-se tolhido pelo pavor do inferno e pela ideia do pecado. Confessa, ainda o autor, que se sentia incomodado por uma voz interior que o acusava de ser sempre "um pecador". Isso o deixava desnorteado e sem condições de combater essa ideia fixa de que estaria fazendo algo de errado.
Mais adiante em seu texto, ele dizia que "quando se incute na criança a ideia de que o homem é pecador, a sua vida fica arruinada", tendo sido essa a razão principal de tê-lo levado ao mundo do crime. O mesmo concluiu que, depois de algum tempo, ao descobrir algo que o levou a ter fé: "somente quando conheci realmente o amor de Deus, compreendi que o amor destrói conceitos errôneos; compreendi que o amor perfeito elimina todo e qualquer medo". 
Diante do que li,comecei a refletir sobre que imagem de Deus nos é passada desde de pequenos. Lembrei-me de quantas e quantas pessoas me disseram que era errado fazer determinadas coisas, porque era pecado e pecando "Papai do Céu" iria me castigar. No entanto, não consegui recordar por que determinadas coisas que eu fazia eram erradas, sendo dignas de castigo divino. 
Percebi, então, que a imagem passada para "meninos pueris", que fomos um dia, era de um Deus que pune o pecador e não o que lhe perdoa. E que nós, devido aos nossos erros - pecados -, não éramos dignos do paraíso. Queriam nos impor o MEDO a Deus, não o respeito e, muito menos, a fé. Não é por apreensão que devemos fazer o bem ao outro, mas por amor ou até mesmo por compaixão.
No entanto, com base no que me atrevo chamar de a "teoria do pecado" (do pecador), cheguei à conclusão de que o MEDO é uma das formas mais eficazes de se controlar alguém. Uma vez que é muito mais simples dizer o que é errado e o que isso pode trazer-lhe de punição, do que lhe dar autonomia de refletir sobre o que é correto ou não, dando ao outro o direito de decidir o que fazer. 
É certo também que a autonomia incomoda àqueles que sentem receio de ver seu "PODER" questionado, suas palavras postas em dúvida. E essa situação faz parte do cotidiano em todas as esferas de nossas vidas, sejam âmbito profissional ou pessoal.
Sem querer entrar no mérito da discussão do livre-arbítrio do qual o homem seria ou não detentor, considero que uma decisão consciente é muito mais valiosa do que agir por imposição. Às vezes, relações estabelecidas com base no temor pelo outro, quando isso se dissipa, as mesmas chegam ao fim. 
Por essa razão, crendo na imensa sabedoria divina, não acredito que Deus desejasse estabelecer uma relação de temor com o homem para obter dele o amor, a fé.
Talvez, se fôssemos nós seres mais conscientes e superiores, conseguíssemos viver segundo o preceito anárquico - segundo o qual  a sociedade seria baseada na liberdade dos indivíduos, na solidariedade (apoio mútuo), na coexistência harmoniosa, da propriedade coletiva, da autodisciplina,da responsabilidade (individual e coletiva) e forma de governo baseada na autogestão. E aí sim, sem a imposição pelo medo, quem sabe se não seríamos capazes ter uma FÉ mais consistente e verdadeira do que alguns dizem ter, o que na verdade não passa apenas de falácia ou de modismo.
Seria isso uma UTOPIA?! 
  

  


sábado, 19 de abril de 2014

Que bom seria que todos os filhos fossem especiais!

O simples fato de ter um filho já é algo especial, porém maior é a felicidade quando temos o nosso filho como "especial". Tê-lo nos braços, segurar-lhe a mão nos primeiros passos cambaleantes, estar por perto para ouvir suas primeiras palavras, mesmo que não seja "papai", é algo que por lhe trazer momentos únicos, por si só já os tornam especiais. Por que, então, o medo de ter um filho especial? Isso deveria ser motivo de júbilo e não de prostramento.
Se o pai de Bernardo o tivesse como especial, será que o garoto não estaria vivo agora? Imagino que sim. Porém a culpa não foi do menino e sim do pai que não foi capaz de enxergá-lo de um jeito especial.  
Então, em que consiste o problema de ser pai de um filho especial? Não consigo entender! Contudo suponho que o problema está nos outros que não tiveram a sorte de ser especiais para seus pais ou  não obtiveram a dádiva de ter um filho especial.
Especial, por outro lado, não deve ser um rótulo, uma forma de identificar o diferente; afinal, diferente todos nós somos. Especial é um estado, é uma atribuição que deve partir do sentimento que temos por nossos filhos. Especial não pode motivar compaixão nos outros. O que é especial é motivo de alegria, pois é um sentimento único, nobre, não razão para lamentações.
Perceba que quando temos um filho por especial, somos capazes de percebê-lo entre muitos outros. Se fosse o contrário, teríamos dificuldade de encontrá-lo entre as demais crianças, pessoas, porque não veríamos nele algo que o tornasse distinto entre os demais.
Muitas vezes, infelizmente, vemos nos olhos dos outros um olhar especial para nossos filhos. Mas não é aquele olhar de satisfação e sim de compaixão! Compaixão de quê? De quem? Esse olhar de lamentação deveriam ter essas pessoas ao se verem no espelho, já que seriam elas merecedoras de "piedade" por não serem capazes de ver algo especial em seus filhos.
Em alguns infelizes, a falta da capacidade de compreender o que torna um filho especial para alguém, toma a forma de preconceito, o que é... compreensível uma vez que estes jamais serão capazes de enxergar além do que veem. Aí o preconceito se torna uma venda, embrutecendo-os, tornando-os uns desafortunados. E eles, sim, merecendo toda a nossa compaixão. 
Ter a oportunidade de ver um filho de forma especial é algo que nem todos terão. Daí eles nunca descobrirão a felicidade que se sente em cada pequena conquista, nas mais simples das ações, nos mínimos passos que se dá para seguir em frente vivendo em meio a uma sociedade que, lamentavelmente, não se tem mostrado em nada especial.
Por fim, só posso agradecer a Deus por me fazer pai de dois filhos especiais, independentemente, daquilo que os outros não enxerguem de especial neles. 
Sinceramente, muito obrigado!

O caso da apreensão do HELICOCA

O Diário Centro do Mundo vem acompanhando de perto o caso da apreensão dos 500 quilos de cocaína no helicóptero dos Perrelas, no Espírito Santo. O trabalho investigativo feito pelo repórter Joaquim de Carvalho mostra como tem-se dado a condução do processo de investigação do caso. Diante do que foi apurado por Joaquim, fica claro que há algo, no mínimo, inusitado em torno dessa história e que, certamente, muita água ainda rolará por baixo dessa ponte.
Juntando-se a esse, inúmeros outros fatos, como os que envolvem Carlinhos Cachoeira e o ex-senado Demóstenes Torres, a forma de condução da Ação Penal 470 em comparação com o Mensalão Tucano, as peculiaridades do caso envolvendo o metrô de São paulo... entre outros, mostra uma face nada positiva da justiça brasileira.
Devemos, portanto, estar atentos a tudo que acontece nos bastidores desse país, para que possamos deixar de ser ludibriados. Recomendo nesse snetido que acompanhemos o DCM nessa empreitada.

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/

sexta-feira, 18 de abril de 2014

O que é corrupção? Ou o que é ser corrupto?

Corrupção sinônimo de político mau caráter, algo circunscrito à política. Seria bom que assim o fosse, pois seria mais fácil combatê-la. Mas se corrupção é o efeito, qual seria a causa senão a existência de um CORRUPTOR?! Não há corrupção sem que haja quem corrompa. Eis o problema!
E o grau de corrupção de alguém se mede pelo valor em dinheiro pelo qual ele se deixou vender? A corrupção ao certo também não é uma simples questão de valores. Ledo engano nosso pensar que é assim, as coisas não são tão simples quanto aparentam.
Começo a imaginar o que aconteceria se alguém me parasse no trânsito por eu ter cometido uma infração, atribuindo-me uma multa, o que deveria fazer? Para alguns, é lógico, negociar, afinal para tudo se tem uma solução, para não dizer um jeitinho. Em outro momento, imagino se na escola, na hora da famigerada prova de matemática (ou de português), alguém solicitar uma ajuda de um colega ou, então, dar-lhe uma das resposta da avaliação, também não representaria algo de errado?! Não, diriam os pais diante dos professores: "meu filho não fez isso por maldade, mas por inocência, afinal isso é comum, não é professor? Afinal o senhor nunca colou durante uma prova?!"
Diante de situações como essas presentes em nosso cotidiano, faço-me um questionamento - o que é um delito então? Colar numa prova, oferecer uma "graninha" a um guarda de trânsito é uma infração ou faz parte da cultura brasileira?! Muitos não conseguem relacionar fatos do dia a dia ao que acontece nas assembleias, nas câmaras, no senado... uma vez que em suas dimensões isso não tenha comparação.
Por outro lado, fugindo da definição do que seria corrupção, levanto uma outra questão: existe corrupção sem corruptor? Creio que não, dessa forma qual dos dois tem mais culpa no "cartório"? Os dois, ora!!!
Diante disso, alguns, considerando que corruptos e políticos são a mesma coisa, e sem noção da realidade do que é uma democracia, pregam o fim dos partidos políticos, por acharem que são eles os principais culpados por essa mazela do Brasil. Tolos, digo eu, não são as instituições que fazem as pessoas, são as pessoas que as produzem. O partido é o meio, as pessoas são os agentes.
Se aceitarmos a ideia - a meu ver correta - que a corrupção não é um mal só da política, não é com o fim da representação democrática do povo que nos livraremos do problema. Acredito que isso seja uma questão de cultura, de educação e que começa em casa. A família deve ser o ponto de partida para a mudança do que vemos hoje.
No bojo familiar, um pai (ou mãe!!!) não pode ser incentivador de práticas contrárias a legalidade das coisas e muito menos serem quem acoberta os erros de seus filhos. Até a mais simples das mentiras deve ser evitada, uma vez que a personalidade de um indivíduo se constrói na relação com seus pares. Os membros da família são os mais próximos dos adultos em formação, daí um cuidado maior em questões como essa. Considero que amar é ser tolerante, só que amor não é sinônimo de tolerância a tudo e a qualquer coisa, sempre haverá o limite entre o certo e o errado.
Assim, em meio a protestos contra a corrupção, deveríamos ter um senso de responsabilidade de averiguar se também não somos de alguma forma corruptos, nem que seja em nome do nosso, infelizmente incorporado por muitos, famigerado "jeitinho brasileiro".
A luta contra a corrupção passa a ser não somente uma simples questão de bandeira a ser erguida, porque essa batalha é muito mais uma questão de mudança de atitude, devendo começar a partir do próprio indivíduo que protesta contra ela.
Seria, então, em meio a uma sociedade tão materialista (consumista) quanto a nossa, pensar no fim desse mal como sendo uma utopia? Quem saberia responder?!

Marcelo Macêdo

A voz que não sabíamos que vinha das ruas

Há quase um ano, mais precisamente em junho de 2013, ao ver as ruas tomadas por multidões protestando sobre tudo (ou nada!), tive em casa um momento de DESASSOSSEGO, que me despertou ainda mais o desejo de participar de forma ativa da sociedade em que vivo.
Meu filho, jovem e cheio de vontade de se fazer ouvir, disse-me que estava organizando junto com colegas, por meio das redes sociais, um processo de mobilizações, de protestos que queriam levar às ruas. Perguntei-lhe sobre o que eles pretendiam "protestar", que "bandeiras" iriam levantar. Ele me disse que estavam resolvendo, que só sabia que uma delas seria a respeito do transporte público - tema este que não poderia ficar de fora. Disse-me também que iriam elencar uma pauta de reivindicações para mobilizar as pessoas.
No meu afã de querer contribuir com minha experiência, não adquiridas nas ruas, mas pelo tempo, questionei-o se não seria mais coerente "definir" as razões do que se queria protestar e só depois pensar em ir às ruas. Insisti dizendo-lhe que, pela lógica, só se pode protestar quando se sabe sobre o que se vai questionar. Ele com as suas razões, segurou sua tese contrária a minha: o protesto é mais importante do que o motivo que o leva a protestar.
E eles eram bem articulados, se reuniam, discutiam sobre a pauta, não estavam ali perdidos sem saber aonde ir, pelo contrário. Só havia um problema, que a vida não os havia ensinado ainda. Há coisas que têm que vir de dentro da gente, para que possam nos manter ávidos em uma jornada como essa.
Mas não é que eles conseguiram, não interessa de que forma, pois o mais importante foi eles terem capitalizado as circunstâncias do momento em que vivia o país, para agirem e motivarem outros ao mesmo. Esses jovens no dia e na hora marcada levaram, segundo afirmaram as "autoridades", cerca de 5 mil pessoas às ruas do centro da cidade para, de forma ordeira e sem nenhum vandalismo, protestar cada um com sua bandeira. 
E eu estava com eles, não pelos mesmos motivos - nós, os mais velhos, pensamos que sabemos de tudo, embora no fundo não saibamos de quase nada. Vi bandeiras de todos os tipos: dos transportes públicos às que defendiam um melhor tratamento para os animais. Presenciei a emoção de um senhor, que parecia ter voltado ao tempo de quando era jovem e combatia a ditadura. As pessoas se entusiasmavam, deixavam seus postos de trabalho para seguir a multidão que avançava rumo ao marco-zero da cidade. Um de meus alunos me confessou que largou a sapataria em que trabalhava e aumentou o número dos que gritavam palavras de ordem.
Eu, que tinha ido com a principal intenção de cumprir o papel de pai vigilante, assistia a tudo atônito sem saber direito o que significava aquilo tudo. Porém, dou-me o direito de revelar um dos momentos que me fez sentir que valia à pena estar ali. Um garoto carregava um cartaz que dizia: ABAIXO A REDE GLOBO, O POVO NÃO É BOBO. Foi aí então que percebi o que poderia tirar de mais significativo daquele movimento. O cartaz do menino me trouxe a esperança de acreditar que realmente o povo não era BOBO.
A façanha dos meninos que organizaram o protesto não parou por aí. Pouco dias depois, o excelentíssimo prefeito da cidade os recebeu em audiência, querendo ouvir as reivindicações que eles traziam. No outro dia, dois dos organizadores do protesto - sem querer dar uma de pai coruja, sobre isso sou perfeitamente vacinado - meu filho e um professor passaram mais de duas horas dando uma entrevista a uma das rádios AM da cidade. Todos queriam saber quem eram eles, o que pensavam, o que queriam. Tanto as autoridades municipais como a mídia, de forma ardilosa, queriam saber do que se tratava aquele movimento. 
Com um tempo, depois de outras ações de protesto, como era normal que acontecesse, os organizadores do movimento começaram a perceber que alguns queriam tirar proveito político deles, daí começaram a se desmobilizar e a se desmotivar, pelo menos por enquanto.
Esses jovens nos deixaram lições que até hoje são as mais variadas e controversas, ninguém que eu tenha ciência sabe ao certo o que foi aquele momento em nossa história recente.
No fundo admito que eles estavam certos em tentar descobrir algo que não conheciam possuir: um certo comprometimento com causas sociais, com a ação de serem POLÍTICOS - não partidário, é bom salientar. Por outro lado, nós os filhos da revolução ainda não havíamos aprendido a lição e fazermos comédia nas ruas com as leis daqueles que foram nossos opressores.
Por isso, apelo para que não sejamos pais que fugiram da luta, deixemos um legado para os nossos netos, já que para os nossos filhos, foram eles que nos ensinaram que nem tudo é como nos parecia ser.
Marcelo Macedo, em agradecimento ao filho que lhe deu a lição que ainda vale à pena lutar por uma sociedade mais justa para todos!

quinta-feira, 17 de abril de 2014

As razões do DESASSOSSEGO

A razão de criar este blog foi justamente o DESASSOSSEGO de me fazer ouvir, de me fazer falar sobre o que penso a respeito do que vejo. O fato de não conseguir suprir a necessidade de deixar clara a forma que vejo o mundo e as coisas que o cercam, servem de motivação para me desassossegar. E essa inquietação torna-se sinônimo de mover-se, de me opor à imobilidade, à passividade que por vezes cruzam nossos caminhos. Então, que possamos tirar o sossego dos acomodados e impulsionar as inquietações daqueles que aceitam o papel de protagonista do mundo em que vivem. Amém!