sexta-feira, 18 de abril de 2014

A voz que não sabíamos que vinha das ruas

Há quase um ano, mais precisamente em junho de 2013, ao ver as ruas tomadas por multidões protestando sobre tudo (ou nada!), tive em casa um momento de DESASSOSSEGO, que me despertou ainda mais o desejo de participar de forma ativa da sociedade em que vivo.
Meu filho, jovem e cheio de vontade de se fazer ouvir, disse-me que estava organizando junto com colegas, por meio das redes sociais, um processo de mobilizações, de protestos que queriam levar às ruas. Perguntei-lhe sobre o que eles pretendiam "protestar", que "bandeiras" iriam levantar. Ele me disse que estavam resolvendo, que só sabia que uma delas seria a respeito do transporte público - tema este que não poderia ficar de fora. Disse-me também que iriam elencar uma pauta de reivindicações para mobilizar as pessoas.
No meu afã de querer contribuir com minha experiência, não adquiridas nas ruas, mas pelo tempo, questionei-o se não seria mais coerente "definir" as razões do que se queria protestar e só depois pensar em ir às ruas. Insisti dizendo-lhe que, pela lógica, só se pode protestar quando se sabe sobre o que se vai questionar. Ele com as suas razões, segurou sua tese contrária a minha: o protesto é mais importante do que o motivo que o leva a protestar.
E eles eram bem articulados, se reuniam, discutiam sobre a pauta, não estavam ali perdidos sem saber aonde ir, pelo contrário. Só havia um problema, que a vida não os havia ensinado ainda. Há coisas que têm que vir de dentro da gente, para que possam nos manter ávidos em uma jornada como essa.
Mas não é que eles conseguiram, não interessa de que forma, pois o mais importante foi eles terem capitalizado as circunstâncias do momento em que vivia o país, para agirem e motivarem outros ao mesmo. Esses jovens no dia e na hora marcada levaram, segundo afirmaram as "autoridades", cerca de 5 mil pessoas às ruas do centro da cidade para, de forma ordeira e sem nenhum vandalismo, protestar cada um com sua bandeira. 
E eu estava com eles, não pelos mesmos motivos - nós, os mais velhos, pensamos que sabemos de tudo, embora no fundo não saibamos de quase nada. Vi bandeiras de todos os tipos: dos transportes públicos às que defendiam um melhor tratamento para os animais. Presenciei a emoção de um senhor, que parecia ter voltado ao tempo de quando era jovem e combatia a ditadura. As pessoas se entusiasmavam, deixavam seus postos de trabalho para seguir a multidão que avançava rumo ao marco-zero da cidade. Um de meus alunos me confessou que largou a sapataria em que trabalhava e aumentou o número dos que gritavam palavras de ordem.
Eu, que tinha ido com a principal intenção de cumprir o papel de pai vigilante, assistia a tudo atônito sem saber direito o que significava aquilo tudo. Porém, dou-me o direito de revelar um dos momentos que me fez sentir que valia à pena estar ali. Um garoto carregava um cartaz que dizia: ABAIXO A REDE GLOBO, O POVO NÃO É BOBO. Foi aí então que percebi o que poderia tirar de mais significativo daquele movimento. O cartaz do menino me trouxe a esperança de acreditar que realmente o povo não era BOBO.
A façanha dos meninos que organizaram o protesto não parou por aí. Pouco dias depois, o excelentíssimo prefeito da cidade os recebeu em audiência, querendo ouvir as reivindicações que eles traziam. No outro dia, dois dos organizadores do protesto - sem querer dar uma de pai coruja, sobre isso sou perfeitamente vacinado - meu filho e um professor passaram mais de duas horas dando uma entrevista a uma das rádios AM da cidade. Todos queriam saber quem eram eles, o que pensavam, o que queriam. Tanto as autoridades municipais como a mídia, de forma ardilosa, queriam saber do que se tratava aquele movimento. 
Com um tempo, depois de outras ações de protesto, como era normal que acontecesse, os organizadores do movimento começaram a perceber que alguns queriam tirar proveito político deles, daí começaram a se desmobilizar e a se desmotivar, pelo menos por enquanto.
Esses jovens nos deixaram lições que até hoje são as mais variadas e controversas, ninguém que eu tenha ciência sabe ao certo o que foi aquele momento em nossa história recente.
No fundo admito que eles estavam certos em tentar descobrir algo que não conheciam possuir: um certo comprometimento com causas sociais, com a ação de serem POLÍTICOS - não partidário, é bom salientar. Por outro lado, nós os filhos da revolução ainda não havíamos aprendido a lição e fazermos comédia nas ruas com as leis daqueles que foram nossos opressores.
Por isso, apelo para que não sejamos pais que fugiram da luta, deixemos um legado para os nossos netos, já que para os nossos filhos, foram eles que nos ensinaram que nem tudo é como nos parecia ser.
Marcelo Macedo, em agradecimento ao filho que lhe deu a lição que ainda vale à pena lutar por uma sociedade mais justa para todos!

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