Ao ler um artigo publicado pelo jornalista Ricardo Kotscho da Record News, em seu blog "O Balaio do Kotscho", em que ele trata da questão da PETROBRAS, através de um artigo cujo título era "PETROBRAS: eis o preço da teimosia de DILMA", senti-me instigado a expor o que penso a respeito do que ele afirmara. Eis o resultado do meu desassossego diante do que li.
Comentário sobre artigo publicado no Balaio do Kotscho
Kotscho, antes de qualquer coisa, gostaria de externar o respeito ao seu trabalho e ao de outros profissionais como seu amigo de bancada Heródoto. Entretanto, você há de convir que admiração e respeito não se traduzem como obrigação de comungarmos do mesmo pensamento. E com base nesse tema tão batido quanto distorcido que é o do direito à liberdade de expressão, que peço permissão para discordar de alguns pontos de seu "artigo".
Primeiramente, quando você diz: "...nada entendo de balanços nem de economia, mas não é preciso ser nenhum especialista para saber que lucro é lucro, prejuízo é prejuízo, tanto faz se é numa instituição pública ou privada. Toda empresa tem que dar lucro ou acaba fechando. E a Petrobras não é uma entidade de benemerência"; reforço que estou no mesmo patamar de você em relação ao entendimento de questões econômicas, muito menos da lógica de um mercado financeiro especulativo como o que temos nos últimos tempos. Mesmo com essas limitações, que ambos assumimos, discordo de seu ponto de vista sobre ser por "uma questão de teimosia" de DILMA a derrocada da situação da Petrobrás.
Essa argumentação me parece simplista demais para explicar a complexidade de análise que o tema exige. Há com certeza inúmeras outras variantes a serem consideradas. Por exemplo, arrisco-me a trazer a discussão sobre as razões que levam grandes exportadores de petróleo como os Estados Unidos e a Arábia Saudita a baixar a cotação do barril aos níveis atuais. Seria essa apenas uma questão mercadológica? Tenho certeza que não. Digo isso porque quando vejo as colocações da mídia acerca dos ativos e do valor das ações da companhia brasileira, tudo parece se relacionar única e exclusivamente à seletiva operação Lava jato.
Quanto a isso você afirma que “De nada adianta agora Dilma fazer discursos denunciando os inimigos internos e externos interessados na privatização da empresa. Que eles existem, e são poderosos, cansamos de ver todos os dias na mídia familiar, mas isto não resolve o desafio imediato, urgente, inadiável: evitar a quebra da empresa, com o contínuo derretimento das suas ações e dos seus ativos...”. Como não, Kotscho? Tudo faz parte do contexto, minimizar a importância desses agentes é que seria um erro.
Por exemplo, nunca havia ouvido falar de George Soros, até dar atenção a notícias sobre bolsa de valores, mercado especulativo, efeitos nocivos da globalização... Bem, Kotscho, esse megainvestidor, chamado pelo seu colega da revista EXAME, Marcelo Poli, em um artigo publicado no dia 10 de fevereiro do ano passado, sob o título de “Soros prova (de novo) por que é o melhor gestor do mundo”, como o incansável (sic) Soros (http://exame.abril.com.br/mercados/noticias/george-soros-prova-de-novo-por-que-e-o-melhor-gestor-do-mu), é acionista da Petrobras. E esse tal “melhor gestor do mundo”, conforme matéria do jornalista Altamiro Silva Júnior, divulgado no site de economia do Estadão, no dia 19 de dezembro do ano passado, ou seja, há um pouco mais de um mês, remando contra a maré dos fundos de pensão norte-americanos, vinha comprando ações da Petrobrás e só no ultimo trimestre de 2014 dobrou a quantidade de papeis da empresa em sua carteira (http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,megainvestidor-george-soros-compra-mais-acoes-da-petrobras,1609845).
Ele fechou o ano com 5,1 milhões de ações e de opções de compra de papeis da estatal brasileira contra 2,4 do trimestre anterior e 2 milhões do primeiro período do ano passado.
O que dizer disso, Kotscho? O homem ficou louco ou continua sendo um exemplo para quem quer investir no mercado financeiro? Nós dois é que não sabemos de nada, meu caro.
Uma outra coisa, o que são ativos? Ou melhor, de quais tipos de ativos se compõe uma empresa da dimensão da nossa petrolífera? Para o povão ou para aqueles que não têm noção e muito menos se interessam pelo assunto, qual o nível de consciência que essas pessoas têm sobre tais NOMENCLATURAS contábeis? É muito fácil causar impactos negativos no meio da população quando números catastróficos em manchetes de jornais viram, de uma hora para outra, assunto de botequim. Da mesma forma que gráficos apresentados em cadeia nacional em nada esclarecem as dúvidas da população. Nesse sentido, espero honestamente que Heródoto não se transforme em um Sardenberg da Record News.
Kotscho, observo em seu artigo que você coloca que: “Vejam bem, não estão em discussão a competência e a honestidade de Dilma e Graça, mas a presidente da Petrobras está visivelmente com seu prazo de validade vencido. Nem ela aguenta mais”. Concordo plenamente sobre a insuspeita competência e, principalmente, da inquestionável honestidade de DILMA e de GRAÇA. Agora, daí a dizer que o prazo de Foster está vencido e que deve ser dado um sinal para a recuperação credibilidade junto ao mercado, como no caso da nomeação de LEVY para o Ministério da Economia, são outros “quinhentos”.
Você acha honestamente que o mercado está preocupado com credibilidade? Tenho lá minhas dúvidas. Para mim, a saída de Graça da presidência da Petrobras seria sim um sinal de que o governo e o país estariam reféns do “deus mercado”. Quer dizer, o governo realmente estaria dando uma guinada à direita, cometendo de fato um estelionato eleitoral.
Os desmandos de corrupção da companhia começaram nos governos do PT? Só os ingênuos leitores e telespectadores da grande mídia brasileira acreditam nisso. Tenho plena convicção de que você não concorda com essa “leviana” insinuação. Por que então creditar o ônus dessa situação à atual diretoria? Em relação a esse aspecto é claro que não se podem dimensionar os prejuízos causados à empresa ou ao país. Não é, todavia, trocando a equipe gestora que se provará ter credibilidade e sim punindo os envolvidos de forma exemplar por aspectos jurídicos e não políticos, como foi no caso da Ação Penal 470.
Há de sua parte também uma preocupação com as ações impetradas pelos acionistas estadunidenses junto à justiça do país deles contra a petrolífera brasileira. Querem fazer o mesmo que fizeram com a Argentina. De repente, surge um “magistradozinho” de lá querendo que o governo argentino decretasse a moratória em defesa dos credores ianques. Ora, os Estados Unidos levaram o mundo à bancarrota em 2008, deixando a economia mundial se arrastando, agora só eles dão sinais de crescimento, enquanto outros países não conseguem sair da quebradeira. Os norte-americanos ganham e o restante das nações está à beira de uma recessão. Que lógica é essa? Não acha que eles têm interesses escusos quanto à PETROBRAS, Kotscho? É com eles que devemos nos preocupar?! Não, é com nós brasileiros.
Além disso, e o que é mais importante, a PETROBRAS não é uma mera empresa de mercado aberto, ela é o principal agente de um ponto estratégico para a soberania nacional. Há inúmeras questões agregadas ao futuro do país do que apenas lucros e dividendos para os seus acionistas. A PETROBRAS não é nenhum time de futebol – nada contra o seu São Paulo -, cuja Presidência da República deve agir como qualquer cartola do nosso falido país das chuteiras que tem que atuar para a torcida, trocando o técnico do time na má fase. Crer nisso é um absurdo?!
Muito menos se pode comparar a nossa ESTATAL ao McDonald’s de reputação abalada, que demitiu seu presidente, seja ele quem for, por um prejuízo de 1% em seus lucros. Foi totalmente INFELIZ a sua comparação.
Outra coisa, a PETROBRAS não pode ser comparada com a PETROBRAX e ser simplesmente privatizada como a SABESP. Veja no que deu e tem mais o PRÉ-SAL não é a Cantareira. Será que dá para comparar o futuro dos paulistas em relação ao abastecimento de água com o futuro do país em relação aos dividendos dos ROYALTES do petroleo? Nem com todos os volumes mortos e a reutilização das águas do Tietê, os futuros podem ser comparados.
Kotscho, o BRASIL não só vive uma crise quanto à economia e à corrupção, mas em outras áreas também, como a do JORNALISMO. A mediocridade e a decadência da imprensa e da grande mídia como um todo é algo deprimente. Os seus abjetos representantes tendenciosos que fazem de seu trabalho um instrumento de alienação não merecem nenhum crédito. Contam-se nos dedos os membros de sua classe que não foram cooptados pela máfia instalada nas entranhas do país. Kotscho, sou um admirador de seu trabalho como de outros remanescentes de um período que já não existe mais no jornalismo brasileiro, por isso torço que seu “balaio” não seja contaminado por esse mal. Não faça a mim e a outros tantos acreditarem que todos vocês jornalistas são iguais e fazem parte desse jogo sujo.
Marcelo Macêdo